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sábado, 22 de abril de 2017

Ecofeminismo: uma breve introdução

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O ecofeminismo é uma vertente feminista que busca ligações entre as problemáticas ambientais e as problemáticas de gênero. Proveniente da década de 1970, na França, só ganhou visibilidade no Brasil durante a ECO-92 com iniciativa do Planeta Fêmea - movimento político feminista que buscou mudanças que corrigissem o desequilíbrio gerado no Planeta Terra. Seus princípios englobam grandes esferas, tais como: política – questiona-se a hierarquia criada entre homens e mulheres, que justificaria a exploração feminina e ambiental; econômica – contesta-se o tratamento da natureza como recurso ilimitado a fim de obtenção de lucros; e política-científica – uma vez que há  a desvalorização e até mesmo a exclusão do conhecimento feminino na ciência.

Alguns dos ideais iniciais da vertente buscavam a luta pela democracia direta, a idealização de tecnologias com menor dano possível ao ambiente e a superação da dominação patriarcal. Nesse contexto, havia uma grande crítica às dicotomias polarizadas, com uma ponta exercendo domínio sobre a outra, por exemplo, campo x cidade, conhecimento bucólico x conhecimento intelectual e espaço reprodutivo x espaço produtivo. Essa crítica opunha-se à supervalorização dos bens materiais em detrimento das outras esferas. Assim, a primeira “utopia” ecológica feminista converge ideologicamente com pensamento ecológico socialista.

Por ser uma corrente feminista que enfatiza a diferença do feminino em relação ao masculino, acredita-se que as contribuições femininas podem ir muito além da ruptura com a atual sociedade machista, com a valorização das características únicas das mulheres a fim de alcançar a igualdade de gênero. Dentro da vertente do ecofeminismo, diversas subdivisões são encontradas, algumas das principais são:

  1. Ecofeminismo clássico: acredita em uma visão essencialista da mulher, maternal, pacifista e conservadora da natureza, em que a ética feminina de proteção dos seres vivos se opõe à essência agressiva do homem que leva o mundo à destruição ambiental, à violência e às guerras;
  2. Ecofeminismo espiritualista: baseado na cosmologia hindu, da Ásia, e na Teologia da Libertação, da América Latina, retoma o “princípio feminino”, isto é, a crença na essência feminina ligada ao meio ambiente (fertilidade, maternidade, proteção). Critica o desenvolvimento do capitalismo, enraizado no patriarcado, no racismo, no elitismo;
  3. Ecofeminismo construtivista: Teoriza que, devido ao processo de socialização da mulher no decorrer do tempo com responsabilidades domésticas, de reprodução e cuidados, ocasionou-se um desenvolvimento “obrigatório” na mulher de certa “consciência ecológica”. Esta relação entre o feminino e o ambiente não está associada a características inatas, mas é produto da divisão sexual do trabalho, que conferiu mais poder à produção do que à reprodução. As lutas socioambientais e feministas tornam-se interseccionais.

Ecofeminismo espiritualista e Vandana Shiva

Vandana Shiva é um dos maiores nomes ecofeministas. Ativista ecológica, referente nome na Física Indiana e PhD em filosofia, tornou-se importante militante pelos direitos ambientais e das mulheres. Parte da crítica do sistema patriarcal capitalista que mantém mulher e natureza “presas” e submissas ao poderio masculino.

Para a autora, o vasto conhecimento ambiental feminino fora desprezado. Anteriormente a relação com o ambiente era apenas para a estabilidade e sobrevivência, e não primordialmente comercial, mas essa relação passa a ser excessiva – considerada como “roubo” a natureza – tendo como principal símbolo a monocultura. Essa prática resultaria na redução de empregos, terras e acesso mínimo das mulheres ao poder. Não apenas símbolo de mudanças excludentes das diversas formas de cultivo seria, acima de tudo, a demonstração da intervenção do homem na natureza visando lucro.

Vandana Shiva se centra em temas como monocultura, preservação de sementes, escassez da água, desmatamento, destruição da biodiversidade e saúde, visto que muitas decisões tornaram-se unilaterais, desconsiderando a humanidade, os princípios de justiça e igualdade e priorizando apenas a produção e o capital.

Seus trabalhos são reconhecidos mundialmente e seu feminismo ajudou muito o Oriente, pela sua participação, por exemplo, no Movimento das Mulheres de Chipko, que buscava de maneira sustentável salvar as florestas. Para esse fim, as mulheres costumavam formar barreiras com seus corpos em torno de árvores para evitar seu corte e protestar contra os despejos tóxicos, gerando certo reconhecimento para as mesmas e visibilidade para a sua conexão com a agricultura. Salientou também a importante economia rural, sendo fundamental papel pacífico natural da mulher que normalmente não era notado, sempre às sombras do patriarcado.

A crítica do “princípio feminino” pelo ecofeminismo construtivista

Existem grandes críticas à produção da Vandana Shiva, principalmente à questão espiritual referente ao “princípio feminino”, crença hindu que enfatiza a essência imutável e inerente das mulheres como primordialmente reprodutoras e distante das relações econômicas de produção, políticas e sociais históricas. Devido à maternidade, todo um estereótipo biologicamente determinista feminino é relacionado à fertilidade dos solos pertencentes à “mãe-Terra”.

Essa corrente é considerada retrógrada por muitas pesquisadoras do meio construtivista, como Val Plumwood, Bila Sorj e Sandra Mara Garcia. Elas criticam os pressupostos ecofeministas clássicos e espiritualistas, pois a essencialização da mulher, que atribui a esta categoria uma unidade, uma distinção atemporal, transcultural e fixa, deixa de lado a problematização da divisão sexual do trabalho, que confinou a mulher ao espaço doméstico e à reprodução de forma obrigatória. Para as autoras não existe uma essência feminina, e fatores como idade, raça, etnia, classe e religião devem ser analisados quando falamos sobre mulheres, pois elas são diversas. Sendo assim, associar comportamentos e atitudes (maternais, frágeis, protetoras, sensíveis...) a fatores biológicos é um equívoco.

A destruição ambiental atual e seus meios

Acredita-se que os desequilíbrios ambientais são decorrências do modelo de vida de consumo e exploração majoritária do Norte em relação ao Sul. As mulheres, nessa medida, apesar de prejudicadas no Sul, seriam grandes alimentadoras do sistema no Norte, gerando lucro para essa região. A indústria da moda, por exemplo, é uma das maiores contribuintes da poluição - algo que pode ser facilmente entendido pela sustentação dos padrões de beleza.

A fim de reverter a situação revoltante, organizações – não necessariamente ecofeministas, mas com princípios equivalentes – basearam-se no empoderamento feminino como meio de transformação, pois a lógica do capitalismo tem se demonstrado incompatível com as exigências ecológicas para a sustentabilidade da vida no planeta, não sendo possível ecologizar o capitalismo, nem acabar com a dominação e exploração das mulheres sem superar as estruturas capitalistas patriarcais que a mantém.

Deste modo, tanto a solução para a crise ambiental, quanto à libertação das mulheres não devem ser tratadas como problemas isolados. A luta pelo meio ambiente é também uma luta feminista: da libertação da destruição e opressão sobre a natureza sedimenta-se a oportunidade de libertação feminina. O ecofeminismo pressupõe a ação conjunta dos movimentos sociais contra seus opressores: o capitalismo, o patriarcado, o racismo. É sobre respeito à natureza, a produção da vida e do equilíbrio, propiciando a valorização da mulher com a garantia dos seus direitos em uma sociedade justa.

Referências
- http://www.uel.br/eventos/sepech/sepech08/arqtxt/resumos-anais/IriePSouza.pdf
- http://www.emater.tche.br/docs/agroeco/revista/n1/11_artigo_ecofemi.pdf
- http://www.redalyc.org/html/381/38135331002/
- https://www.espacoacademico.com.br/058/58angelin.htm


Por  Júlia Cardoso

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